O sol escaldante e as altas temperaturas têm transformado a rotina daqueles que fazem das ruas de Belém seu local de trabalho. Vendedores de água, motoristas de ônibus, motociclistas de aplicativos de transporte, ambulantes e outros profissionais enfrentam diariamente o desafio de garantir o sustento sob condições climáticas adversas. A situação tende a piorar durante os meses de junho a novembro, intitulado verão amazônico.
A autônoma Rosa Pereira, de 37 anos, vende café da manhã todos os dias em um ponto na avenida Almirante Barroso. “Começo cedo para aproveitar o frescor da manhã; mas por volta das 10h, o calor já está insuportável. Ainda bem que tenho o carrinho, que dá pelo menos uma sombra por perto, porque o sol cansa muito, principalmente para quem trabalha com alimento no fogo”, explica.
Para Luiz Antônio Souza, 62, mototaxista, o calor é um adversário constante. O mototaxista adotou o uso de máscara, luvas e duas camisas de mangas compridas para inibir a insolação no corpo. “A gente transpira muito e precisa parar para se hidratar com frequência. O trânsito pesado de Belém ainda piora as coisas, pois a gente pega muito sol parado nos engarrafamentos”, comenta Luiz.
Para quem vende água o tempo quente é um aliado. Marcos Siqueira, 53, vende água e outros alimentos nas esquinas movimentadas da cidade, e em um dia típico, ele carrega várias garrafas de água gelada e de coco em busca da freguesia. Das 9h às 14h, Marcos vende 50 garrafas de água. “A água que vendo é a mesma que me salva do calor. O sol está muito forte e, sem água, não tem como trabalhar. Às vezes, as vendas caem, geralmente a partir das 15h, porque as pessoas evitam sair no calor”, explica Marcos.
O meteorologista Sidney Abreu, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) de Belém, destaca que as altas temperaturas registradas nas previsões climáticas da capital paraense são características do período de transição para o verão amazônico, que se inicia no próximo mês.
“O mês de maio é um período de transição, com pancadas de chuva isoladas e trovoadas no final da tarde ou início da noite. Em junho, com menos chuva e temperaturas elevadas, que persistem até novembro. Estamos vendo temperaturas de 34°C a 35°C, que podem chegar a 40°C no extremo sudeste do Pará, que é a região que tende a ser mais afetada pelo calor”, esclarece.
Para junho, espera-se que as características do verão amazônico sejam: o dia começa com pouca nebulosidade, com um céu em tom de azul mais escuro em que a cobertura de nuvens aumenta gradativamente até as nuvens de estabilidade, chamadas Nimbus – provocadoras de chuvas, se formem durante a tarde. Em relação às temperaturas, estima-se que a mínima seja de 23°C e 24°C durante às 6h, já ao longo do dia, por volta das 15h, a máxima deve atingir 35°C.
O meteorologista explica que o fenômeno El Niño, que tem causado chuvas abaixo da média na região Norte, está em enfraquecimento, e há uma previsão de entrada do fenômeno La Niña a partir de julho. “Com o La Niña, é esperado que tenhamos um verão com menos chuvas, mas com volumes tendendo a se apresentar acima da média, com pancadas isoladas que podem ser intensas, causando transtornos”, acrescenta.
Sidney Abreu recomenda que a população tome cuidados específicos, especialmente em lugares em que as temperaturas ficam mais elevadas, como é o caso do sudeste e sul do Pará – que terão mínima de 18°C nas primeiras horas do dia e a máxima em torno dos 40°C. “Durante o dia, contra o sol, é necessário muita hidratação, alimentação leve e proteção constante. Durante as chuvas da tarde, ou tempestades, é importante evitar ficar debaixo de árvores ou manusear aparelhos eletrônicos, para evitar acidentes”, orienta o meteorologista.